Relato de uma professora – mãe
Temos que ter humildade para admitir nossos erros e rever nossas certezas e convicções – este relato devo a memória de meu pai e a presença marcante de minha filha.
Ingressei no magistério muito cedo. Meu pai – professor, filósofo, dono de uma instituição de ensino cinquentenária, orgulhava-se ao ver sua filha lecionar com apenas 14 anos – sem experiência mas cheia de vontade de trabalhar em prol da educação.
Cursei o antigo “normal” e já me deparei com as discussões sobre as diversas metodologias de ensino. Em 1992 o “Construtivismo” não era só uma filosofia mas uma novidade bombástica que virou moda. Eu me questionava como ainda existiam professores que ensinavam apenas usando quadro-negro e livro didático. Participava de encontros, seminários, congressos, oficinas, e cada vez mais tinha certeza que o método tradicional era um erro.
Passei no vestibular e cursei Pedagogia onde continuava a ler e debater sobre os diferentes métodos e filosofias de ensino. Tornei-me íntima de Piaget, Freinet e Montessori – tudo que lia sobre eles me atraía e encantava. Lembrava da minha infância e da tortura que era pra mim freqüentar a escola. Certamente, isso ocorria porque o método tradicional da mesma não me estimulava – e isso se tornou uma certeza em minha mente – o método tradicional não incentiva as crianças a estudar, não é eficaz, não ensina no sentido pleno da palavra.
Meu pai vendo minha “garra” pela educação quis me estimular ainda mais e me ofereceu um cargo de responsabilidade em sua escola – passei a coordenar a parte pedagógica do 1o Ciclo do Ensino Fundamental. Enchi-me de orgulho e fui “armada” para modificar toda a estrutura de ensino.
Preparei um curso de capacitação e reciclagem para orientar as professoras que desesperadas com as mudanças já me detestavam. Eram senhoras que nunca participaram de cursos extra, que tinham cadernos de planejamento guardados há no mínimo 15 anos e aplicavam sempre o mesmo conteúdo, lecionavam para as mesmas séries e tinham o castigo como aliado contra a indisciplina.
Exerci o cargo por alguns anos e sofri todo o tipo de pressão que possam imaginar. Brigas homéricas com meu pai eram diárias. Isso na prática não funciona! Gritava ele. Eu não me rendia a mesmice mas aceitava que mesclassem os diferentes métodos de ensino se assim ajudasse os alunos a aprender.
Os anos se passaram e muitas coisas dolorosas aconteceram em minha vida, inclusive a perda de meu pai – meu tudo, meu chão, minha vida enfim. Mas Deus, em sua infinita bondade, me deu uma filha que ocupou o espaço vazio que havia ficado em meu coração.
Trabalhei como professora em outras escolas e realizei-me naquelas onde pude exercer o trabalho da forma que acreditava ser correta e fugi, desesperadamente, das escolas tradicionalíssimas. Criei o PPD ( Projetos Pedagógicos Dinâmicos ) e me realizei ainda mais elaborando dicas de atividades práticas e projetos que auxiliam os professores a inovar em sala de aula. Afinal, vivenciei a dificuldade de muitos em realizar atividades interativas, dinâmicas, originais.
Minha filha já em idade escolar foi estudar nas escolas mais conceituadas. Sua primeira escola afirmava que quanto maior for o desenvolvimento dos sentidos, maior o contato com o mundo e, consequentemente, maior a chance de conhecê-lo e dominá-lo. Nossa! Era tudo que eu acreditava… Pagaria, mesmo com dificuldade esta escola para minha filha. E assim aconteceu.
Se repetia na minha filha a tristeza e o sofrimento em ir para a escola. E eu não entendia o porque. Passavam os anos e a professora afirmava que Letícia Mariana precisava repetir a educação infantil, que não estava apta a ser alfabetizada. Nas comemorações escolares percebia um certo desprezo em relação a minha filha, a professora certa vez chegou a se despedir e beijar todos os alunos e ela, de braços estendidos, esperando a sua vez, foi esquecida. Aquela cena cortou meu coração, voltei para casa chorando.
Troquei Letícia Mariana de escola e outra vez ouvi que não estava apta a ser alfabetizada. Suas letras enormes em formato bastão já copiavam, com dificuldade o nome mas não o escreviam. Sem contar com os problemas de relacionamento e socialização.
A vida se tornaria insuportável, se não nos proporcionasse mudanças. E com mais uma mudança em minha vida, indo morar em um outro bairro resolvi que minha filha estudaria na escola mais próxima e já descrente não me preocupei muito com a metodologia da mesma. A escola foi indicada pela mãe de uma criança portadora de necessidades especiais que afirmou ser excelente.
Na 1a reunião com a professora percebi a simplicidade da escola – não ouvi discurso sobre as grandes teorias mas sim senti um clima positivo de companheirismo, união e devoção a Deus. Saí dali um tanto preocupada mas a energia era positiva e isto me bastou.
Letícia Mariana já com quase 7 anos não sabia ler nem escrever nada mas naquela escola simples afirmaram – ela vai para a alfabetização sim! Já deveria até estar alfabetizada! Ela vai aprender! Que choque… As teorias tão bonitas e interessantes não passam do papel em muitas escolas e são apenas repetidas como alvo para arrecadar alunos – só pode ser isso!
A conclusão é que Letícia Mariana passou a ir para a escola com um ânimo e um prazer quase indescritível. Se interessou e se esforçou muito. Recebeu bastante estímulo da professora que ensina com quadro – negro e livro didático mesmo mas com muito amor e sem fazer distinção entre seus alunos.
Minha filha foi totalmente alfabetizada numa escola tradicional mas que realiza atividades inteligentes e preza por cultuar valores éticos e morais em seus alunos. Não teve mais problemas de relacionamento ou socialização, ao contrário, tornou-se popular e repleta de amigos. Todos gostam dela e a elogiam. Hoje, teve a solenidade de sua formatura e foi escolhida para ser juramentista – subindo ao palco e lendo com desenvoltura o texto do juramento. Que emoção!
Estuda conteúdos que são trabalhados em turmas de 2o ano em muitas outras escolas – sendo que acabou de se alfabetizar. Minha mãe, que muito me ajuda na educação de Letícia Mariana é incansável ao estudar com ela e fazer os deveres de casa.
Foi uma experiência incrível para mim e que me fez repensar sobre conceitos já tão enraizados. Talvez não importe a teoria, a metodologia, a filosofia… talvez não importe tanto o conteudismo, mas sim o AMOR pelo trabalho, o respeito pelo ser humano em formação. A professora Marlene Huggler pode não ser PHD em pedagogia mas o é em Paixão de Educar e isso fez a diferença na vida da minha filha. A ela, agradeço de coração.
Trecho do livro Projetos Pedagógicos Dinâmicos: a paixão de educar e o desafio de inovar. Compre o seu exemplar com 30% de desconto usando o código brincar23 no site www.wakeditora.com.br
Paty Fonte (Patricia Lopes da Fonte)
Educadora especialista em pedagogia de projetos, escritora, autora de diversos livros, dentre eles: “Projetos Pedagógicos Dinâmicos: a paixão de educar e o desafio de inovar” e “Pedagogia de Projetos – Ano letivo sem mesmice”, ambos publicados pela WAK Editora; autora e tutora de cursos presenciais e on-line de educação continuada a docentes, coach, palestrante.
Idealizadora e diretora dos site ppd.net.br
emocionante esse depoimento, não sei se é real ou ficção, mas penso que seja isso, não tem tanta importância as teorias e sim psicologia que são utilizada com os nossos filhos, principalmente em analisado como um todo e não somente o momento da avaliação.
Maria de Fátima, obrigada pelo comentário! O depoimento é verídico. Minha filha hoje está com 17 anos e ama ler e escrever, já finalizou seu primeiro livro e está aguardando uma editora para publicá-lo.
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Fraterno abraço,
Paty Fonte