Reggio Emilia: a pedagogia que encanta.
Abordagem pedagógica presente na educação infantil de Reggio Emilia, cidade localizada ao norte da Itália, vem ganhando espaço em vários países, inclusive no Brasil. Essa experiência educadora foi reconhecida como a melhor do mundo em 1991.
Partindo do pressuposto de que a criança nasce com as suas “cem linguagens”, a pedagogia da Reggio Emilia assume que os adultos têm como tarefa prioritária, a escuta e o reconhecimento das múltiplas potencialidades de cada criança, observada e atendida em sua individualidade.
Para tanto, as escolas criam espécie de “laboratórios do fazer”, que combinam as tradicionais linguagens gráficas, pictóricas e de manipulação (modelos e maquetes), mas também as do corpo, ligadas ao movimento, as da comunicação verbal e não-verbal, as linguagens icônicas, o pensamento lógico, científico, natural, discussões éticas, e manejo de ferramentas multimídia, sempre objetivando que a criança aprende “com todo corpo”, de forma fluída e permanentemente integrada.
Assim como a Pedagogia de Projetos, a perspectiva Reggio Emilia faz com que as escolas não trabalhem apenas com as linguagens codificadas e reconhecidas, mas reconheçam as experiências reais obtidas por meio da pesquisa e de descobertas sensoriais dos próprios estudantes.
O trabalho é conduzido de maneira democrática, sendo a equipe pedagógica, alunos e familiares atores importantes para sua consolidação. Os professores atuam em parceria com o atelierista, profissional que apoia a consolidação de pontes entre as diversas descobertas da criança, empoderada pela ideia de experimentar, de descobrir o mundo e os outros a partir do manejo das diferentes linguagens às quais é apresentada.
A mesma condução é feita pelos educadores que atuam no sentido de expandir o método de conhecimento próprio da criança, incluindo as linguagens artísticas e expressivas na prática cotidiana. A equipe pedagógica parte do pressuposto de que a mente do ser humano e, portanto, da criança, é multidisciplinar e observá-la em sua forma de aprender é uma forma de incentivar a apropriação de conhecimento.
Tal proximidade também é mantida com os familiares. Além de serem bem-vindos entre as dependências escolares, na entrada e saída dos alunos, eles também participam de outras ações e iniciativas, como reuniões com professores e pedagogos, do conselho escolar, da consolidação das políticas escolares, e elaboração do percurso pedagógico, trilhado por eles mesmos, pela equipe pedagógica e pelas crianças.
Para realizar o projeto que recebe as características de cada comunidade, a formação inicial e continuada dos educadores se torna condições essenciais e indispensáveis. As escolas concebem um processo de seleção e treinamento, que tem continuidade na própria unidade, em trabalho gerido por um coordenador. Assim como com as crianças, esse coordenador adota uma metodologia formativa que visa estimular e alcançar os “maiores talentos” de cada professor, assim como apoiar as questões apresentadas pelas crianças e o diálogo com os pais.
Na mesma perspectiva, a conduta pautada na educação inclusiva e coesão social faz com que as escolas mantenham uma capacidade de integração com os imigrantes. As unidades da rede apoiam essas famílias no acesso à cultura e tradição local, a partir da história do território, e das famílias dos outros estudantes. A postura evidencia outro valor comum a essa experiência educativa: o acolhimento irrestrito das diferenças.
A metodologia de Reggio Emilia evidencia que a diferença da subjetividade reforça o valor de cada indivíduo e por isso zela por um modelo educativo que dê conta de todas as particularidades dos estudantes e das suas famílias.
Em diálogo com a proposta, as escolas da rede são construídas de modo a favorecer o diálogo e o conhecimento compartilhado das crianças. Para tanto, os ambientes – que permitem que a escola acesse o exterior e vice e versa – estimulam a construção de diversas perspectivas e pontos de vista, consentindo às crianças uma pluralidade de experiências sensoriais. A estética e arquitetura das escolas são pensadas como elementos de qualidade do conhecimento, a partir de uma estrutura que permite a conexão das crianças entre si, com a equipe pedagógica e com a área externa.
Como exemplo, a cozinha, que é um espaço geralmente negado às crianças, é aberta e inteiramente conectada com a proposta pedagógica. Para a equipe gestora, a proximidade dos alunos ali reforça a importância da relação com a família, já que é no ambiente que se constroem importantes laços, como o “comer junto”, e a vida familiar cotidiana. A cozinheira também atua como educadora e permite aos alunos que participem do preparo dos alimentos – na tarefa, eles não só conhecem os alimentos, como são convidados a experiências sensoriais e de degustação, ao descascar, cortar e provar os diferentes ingredientes.
No caso das creches, dá-se ainda preferência por espaços com seções modulares flexíveis, criando a sensação de acolhimento. Outro elemento bastante presente é o espelho, não só nas paredes, mas também no chão, por se apresentar como algo intrigante para a faixa etária, já que a criança enxerga a si própria, aos amigos, e também as particularidades do ambiente, estimulando a visão por diferentes perspectivas.
Ainda na proposta de valorizar a experiência dos alunos, as salas que acolhem os projetos das crianças não são arrumadas para o dia seguinte. A ideia é que as crianças possam revisitar suas criações e mesmo dar continuidade às suas pesquisas, sendo este um fio condutor da aprendizagem.
Similar a Pedagogia de Projetos, a abordagem valoriza o trabalho coletivo – que é uma das bases da experiência de Reggio Emilia. Isso mostra que independente do papel que cumpre, ou função que desempenha, cada pessoa é importante na condução do ensino aprendizagem e, portanto, protagonista legítimo da experiência adquirida. Outra questão que nos remete ao trabalho com projetos é a naturalidade com que é vista a interdisciplinaridade em meio à metodologia, o que evidencia o trabalho em prol do desenvolvimento de várias habilidades e competências.
Novamente podemos comparar com a Pedagogia de Projetos, pois em sua prática a metodologia insere as crianças cotidianamente em situações de pesquisa e debate, favorece o questionamento sobre si próprias e sobre os outros, o que as torna mais participativas e, futuramente, cidadãos mais críticos e cientes da importância de seu papel em uma sociedade mais justa e igualitária. Os alunos são convidados a compor seu ponto de vista em conjunto com os demais, fortalecendo o processo de construção não apenas de suas identidades individuais, mas do coletivo com suas múltiplas particularidades.
Em todo o processo de ensino e aprendizagem, as crianças têm suas habilidades reconhecidas e seu desenvolvimento conduzido a partir de suas próprias relações com os demais e com o mundo. Para tanto, as equipes gestoras garantem que as escolas sejam capazes de prover relações significativas e importantes para o desenvolvimento integral dos alunos.
A troca de experiências entre os alunos que, a cada término de atividades são convidados a participar de uma assembleia, também reforça que independente da experiência adquirida, o conhecimento é um patrimônio de todos.
Para saber mais: http://www.reggiochildren.it/
Leia também: O Sentido dos Projetos em Reggio Emilia
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