Pestalozzi: o teórico do amor
“O amor é a plenitude da Educação: só o amor tem força salvadora capaz de levar o homem à plena realização moral.”
Vivemos um momento de resgate da educação humanista, onde vários teóricos afirmam a necessidade de buscar uma concepção de escola afetiva que possa facilitar a construção de uma sociedade mais justa, democrática e solidária. Assim sendo, é bastante pertinente conhecermos a história e obra de Pestalozzi, um dos pioneiros da educação moderna que influenciou profundamente todas as correntes educacionais, e está longe de deixar de ser uma referência.
Johann Heinrich Pestalozzi nasceu em Zurique, Suíça, em 1746 e faleceu em Brugg, Suíça, no ano de 1827. Fundou várias escolas, cativava a todos para a causa de uma educação capaz de atingir o povo, num tempo em que o ensino era privilégio exclusivo.
Influenciado pelo filósofo Rousseau, durante o século XVIII, em meio à nova Europa Capitalista, Pestalozzi idealizou a possibilidade de libertar o povo através da educação. Sua vida e obra estão intimamente ligadas à religião. Cristão devoto e seguidor do protestantismo, ele se preparou para o sacerdócio, mas desistiu em favor da necessidade de viver junto à natureza e de experimentar suas idéias a respeito da educação.
Casou-se aos 23 anos com Anna Schulthess, mulher de ideias humanistas como ele. Juntos, em 1774, fundaram a Fazenda Neuhof, um instituto para crianças carentes que tinha como proposta unir a educação e o trabalho. Essas crianças aprendiam um ofício com base nas ideias naturalistas vigentes na época e nas horas vagas eram instruídas.
Pestalozzi escreveu “As Horas Noturnas de um Ermitão” (The Evening Hours of a Hermit – 1780), contendo uma coleção de pensamentos e reflexões. A este livro seguiu-se sua obra-prima: Leonardo e Gertrudes (“Leonard und Gertrud” – 1781), um conto onde narra a reforma gradual feita primeiro numa casa, depois numa aldeia, frutos dos esforços de uma mulher boa e dedicada. A obra foi um sucesso na Alemanha, e Pestalozzi saiu do anonimato.
A escola idealizada por Pestalozzi deveria ser não só uma extensão do lar como inspirar-se no ambiente familiar, para oferecer uma atmosfera de segurança e afeto. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos, o pensador suíço não concordava totalmente com o elogio da razão humana. Para ele, só o amor tinha força salvadora, capaz de levar o homem à plena realização moral – isto é, encontrar conscientemente, dentro de si, a essência divina que lhe dá liberdade.
Em 1798, devido à guerra napoleônica, surgiu oportunidade de Pestalozzi dirigir um instituto para crianças órfãs, vítimas da guerra, na cidade de Stans. O orfanato era subsidiado pelo governo suíço e o humanista virou mestre-escola. Foi quando desenvolveu com as crianças as novas práticas educativas que tanto relatou em suas obras. Além de professor, tornou-se um “pai” dessas crianças, aplicando a pedagogia do amor que fortalece o caráter.
O pensador suíço aplicou em classe seu princípio da educação integral, não limitada à absorção de informações. Foi o primeiro a tentar fundamentar a educação no desenvolvimento orgânico mais que na mera transmissão. Para ele, um dos cuidados principais do professor deveria ser respeitar os estágios de desenvolvimento pelos quais a criança passa. Dar atenção à sua evolução, às suas aptidões e necessidades, de acordo com as diferentes idades.
Para Pestalozzi, parte de uma missão maior do educador, a de saber ler e imitar a natureza – em que o método pedagógico deveria se inspirar. Segundo ele, o processo educativo deveria englobar três dimensões humanas, identificadas com a cabeça (intelectual), a mão (físico) e o coração (afetivo ou moral). O objetivo final do aprendizado deveria ser uma formação também tripla: intelectual, física e moral. E o método de estudo deveria reduzir-se a seus três elementos mais simples: som, forma e número. Só depois da percepção viria a linguagem. Com os instrumentos adquiridos desse modo, o estudante teria condições de encontrar em si mesmo liberdade e autonomia moral. Como alcançar esse objetivo dependia de uma trajetória íntima, Pestalozzi não acreditava em julgamento externo. Por isso, em suas escolas não havia notas ou provas, castigos ou recompensas, numa época em que chicotear os alunos era comum.
A criança, na concepção de Pestalozzi, era um ser puro, bom em sua essência e possuidor de uma natureza divina que deveria ser cultivada e descoberta para atingir a plenitude. Costumava comparar o ofício do professor ao do jardineiro, que devia providenciar as melhores condições externas para que as plantas seguissem seu desenvolvimento natural, lembrando que a semente traz em si o “projeto” da árvore toda.
No método Pestalozzi o aprendizado seria, em grande parte, conduzido pelo próprio aluno com base na experimentação prática e na vivência intelectual, sensorial e emocional do conhecimento. É a idéia do “aprender fazendo”, amplamente incorporada pela maioria das escolas pedagógicas posteriores a ele. O método deveria partir do conhecido para o novo e do concreto para o abstrato, com ênfase na ação e na percepção dos objetos, mais do que nas palavras. O que importava não era tanto o conteúdo, mas o desenvolvimento das habilidades e dos valores.
Vários recursos metodológicos novos devem sua origem a Pestalozzi, como exemplo: empregava as letras do alfabeto presas a cartões e introduziu lousas e lápis. A inovação mais importante foi a da instrução simultânea, ou em classe. Isso não era novo, mas não havia sido posto em prática de um modo generalizado. Além disso, revolucionou a disciplina, baseando-a na boa vontade recíproca e na cooperação entre aluno e professor e deu novo impulso à formação de professores e ao estudo da educação como uma ciência .
“A vida educa. Mas a vida que educa não é uma questão de palavras, e sim, de ação. É atividade.”
Dicas de leitura:
- Pestalozzi: Educação e Ética, Dora Incontri, Ed. Scipione.
- Pestalozzi e a Escola num castelo, Dora Incontri, Editora Comenius. Um livro infantil para todas as idades, que conta a história do educador suíço Johann Heinrich Pestalozzi, em forma de poesia.