Pedagogia do Abraço – Eu quero ser do tipo que acusa ou que ajuda?

O relato da professora de inglês Carolina Barra (25 anos) chamou atenção na rede social. Foram várias curtidas e compartilhamentos. Sites variados procuraram a jovem docente solicitando informações para publicação.

Em um mundo cada vez mais agressivo, violento e egoísta foi através da simplicidade de um abraço sincero, repleto de carinho e boa vontade, que ela transformou o aluno indisciplinado.

Vale a pena ler e refletir sobre o relato de Carolina. Admiramos e apoiamos sua postura. Afinal, quem não se identifica? Quem de nós nunca teve um aluno bagunceiro? Quem de nós nunca precisou de um bom abraço? Leia na íntegra o que ela nos escreveu:

 “Desde o início do ano esse aluno se demonstrava muito desrespeitoso. Ele não conseguia se concentrar em nenhum momento da aula, estava sempre fazendo algum tipo de bagunça: mexendo onde não devia, estragando coisas, brigando com os colegas, etc. Mas o pior disso tudo é que ele parecia não se importar nem um pouco com as consequências. Não importava o que eu fazia ou a professora da sala dele, ele continuava fazendo as mesmas coisas, por exemplo: se eu o tirasse da rodinha porque ele estava atrapalhando, ele arranjava logo um jeito de atrapalhar da cadeira. Não importava o quanto era conversado nem nada do que era feito, ele continuava do mesmo jeito.

E eu falhei com ele por muito tempo porque ele me tirava do sério! Eu ficava irritada, sem paciência, nem gostava de ficar muito perto dele. Praticamente eu falava com ele só para reclamar. É importante ressaltar que eu falhei muito antes de acertar com ele. E que eu também tenho falhas e falho com outros alunos. Mas sempre é tempo de acertar!

Mesmo eu tendo essa dificuldade com ele, eu sempre me importei. Um dia fui conversar sobre ele com a minha mãe que é psicóloga e ela disse que ele precisava de carinho. E então eu comecei a pensar no que eu faria de diferente.

Pensei numa história que o José Pacheco conta. Um relato que aconteceu na Escola da Ponte, no qual eu sempre procuro me inspirar. É a história de um menino chamado Marco que era muito violento: dava pontapés nas crianças, tacava pedra nelas. E um dia as crianças decidiram que ele precisava responder por isso e na Assembleia da escola que acontecia às sextas, elas fizeram um tribunal para decidir uma punição para ele. E uma menina de 5 anos foi defendê-lo e resumindo ela disse: “todo mundo diz que o Marco é um mau menino, mas ele não precisa que digam isso para ele. Ele sabe disso. Alguém aqui por acaso já ajudou o Marco a ser um bom menino?” Então ela propôs que se acabasse com o tribunal e que se criasse uma comissão de ajuda para ajudar o Marco a ser um bom menino. Na segunda feira quando Marco chegou e foi pegar uma pedrinha para jogar, umas dez crianças ficaram em volta dele: “Marco, você é um bom menino. Não joga essa pedra!” e toda vez que ele ia fazer alguma coisa o grupo de crianças o dizia que ele era um bom menino. E de tanto ele ouvir isso ele acabou acreditando e sendo.

Essa história me move como educadora porque eu fico me questionando o tempo todo: eu quero ser o tipo que acusa ou que ajuda? E percebi que por todo aquele tempo eu estava, na verdade, sendo do tipo que acusa, acusando aquele aluno de ser um mau menino, quando tudo que ele precisava era de ajuda para ser um bom menino. Afinal, quem que é a adulta da história?

Então eu comecei a pensar num método novo. Tenho um amigo, André Luís Corrêa, que gosta de fazer coisas que choquem os alunos, algo que eles não esperam e pensei em fazer algo do tipo. Então tive a ideia de abraçá-lo toda vez que ele fizesse algo que não deve. Isso iria chocá-lo. .

Na primeira vez ele realmente ficou muito chocado, não entendeu nada, mas logo começou a me abraçar por vontade própria. E foi melhorando absurdamente, ajudando-me na aula e sendo de fato um bom menino.

É importante ressaltar que ele é uma criança agitada e meu objetivo não era fazer com que ele não ficasse agitado porque toda criança é única e tem características próprias e intransferíveis e ser agitado é uma coisa dele, que eu não quero que mude. O que eu queria mudar e que está mudando é o fato dele desrespeitar as pessoas e não se importar. Agora ele se importa e agora ele entendeu que eu me importo com ele também.”

Carolina não teve medo que sua atitude virasse um exemplo para as outras crianças também bagunçarem em busca de um abraço, pois sempre deixou claro para todos os seus alunos que eles podiam abraça-la quando quisessem.

Na prática houve uma mudança em toda a turma: a sala que já era carinhosa, ficou mais aberta a demonstrações de carinho.

“Acho que isso deve ter ajudado as crianças a lidarem umas com as outras. Elas, inclusive, ficaram mais abertas a vir até mim”, conta Carolina, satisfeita.
Acima de tudo, a principal mudança aconteceu na própria professora: “Se antes me estressava, saía do trabalho estressada e chateada comigo mesmo, hoje, não me estresso mais! Chego e saio do trabalho feliz, com o coração aberto”.


Carolina Barra – Graduada em Letras – professora de inglês, português, literatura e redação. Trabalha com faixas etárias diferentes, da Educação Infantil ao Ensino Médio e EJA. Trabalha atualmente em 5 lugares diferentes entre escolas e cursos.

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