Dos saberes docentes…

 – Meu filho (3 anos)sabe todas as letrinhas do alfabeto…

– A senhora sabe dizer algo da relação fonema/grafema?

A senhora sabe se ele é pré-silábico, silábico com ou sem valor sonoro, silábico-alfabético ou alfabético?

A senhora sabe me falar sobre os sistemas de representação gráficos que ele desenvolveu?

Quantos livros a senhora lê com ele por semana?

– … Ham… isso eu não sei… mas ele conta de 1 a 10.

– Ele sabe a relação número/numeral? Ele compreende quantos 2 existem em 10? Quantos 5? Ele sabe qual numeral representa mais ou menos quantidade em relação a outro numeral?

– … Não ele só tem 3 anos!

– Exatamente. Com essa idade ele precisa brincar, desenhar, pintar, explorar, experimentar e conhecer o mundo!

– Ah mas não vai ter trabalhinho vou mandar ele para escola ”só para brincar”?

– O que a senhora entende por só “brincar” eu entendo que: é um atributo inato que a própria natureza exige de todos os filhotes para seu processo de amadurecimento físico/motor; psico/social e cognitivo.

A criança que é privada do brincar desenvolve atrofias motoras, afetivas, sociais e cognitivas: portanto desequilíbrios, desordem do organismo e por fim doenças.

O “brincar” é trabalho da infância. O processo natural de aprendizado infantil.  O resto: folhinha, deverzinho, tarefinha é simulacro, enfeite e enganação para agradar adultos leigos, mas que em nada contribuem para o verdadeiro processo de desenvolvimento e aprendizado da criança.

– Mas como vai ser na Alfabetização? Ele vai chegar sem saber nada? Atrasado…

– Se ele viver uma Educação Infantil rica em experiências significativas ele vai chegar com todo aprendizado e desenvolvimento necessários. Brincando e interagindo, desenhando e ouvindo histórias, explorando e produzindo conhecimentos reais ele chegará não só na Alfabetização, mas na vida tendo desenvolvido: pensamento abstrato, esquemas de representação; criatividade, coordenação motora ampla e fina; coordenação viso-motora-auditiva; plena noção espacial, de si e dos objetos em relação ao mundo; amadurecimento intrapsíquico; linguagem desenvolvida e compreensão da função social da leitura e escrita; amadurecimento físico/motor; desejo, curiosidade e vontade de aprender entre mil outras habilidades desenvolvidas, mas o mais importante para todo e qualquer processo educativo: autoconfiante, saudável e feliz!

– Eu não sabia…

– Sim, para saber são necessários anos de estudos e pesquisas constantes sobre a infância, seus processos de aprendizado! Por isso estudamos: sociologia, antropologia, história, biologia epistemologia, didática, currículo, avaliação…

Fuja de escolinhas que enchem as crianças de folhinhas e apostilados, livrinhos e trabalhinhos e as privam do brincar: isso só gera angústia, ansiedade, frustração e desgaste e insegurança da relação da criança com o próprio processo, gerando muitas dificuldades de aprendizado e garantindo um longo tratamento psiquiátrico futuro.

O recado está dado!

O plantio é opcional, mas a colheita é certa.


 

Andréa Serpa – 35 anos de magistério. Professora das infâncias. Pedagoga. Mestre e Doutora em Educação. Profa. Adjunta da Faculdade de Educação UFF. Coordenadora do Laboratório de Brinquedos FEUFF.

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