Adaptação Escolar – Fazendo da escola um novo mundo para a criança
Educar um filho (o mundo inteiro sabe disto) não é tarefa simples. Certamente por isso, mesmo nas culturas mais primitivas, essa educação tem lugar especial na hierarquia das preocupações.
Ao se receber no lar uma criança, muita coisa muda, e ajudas são geralmente muito bem-vindas: uma avó por perto com sua experiência, quem sabe uma enfermeira, uma babá, uma vizinha solícita, um livro especial…
A criança vai crescendo e exigindo mais e mais dos adultos. Poderíamos arriscar e dizer que, nos tempos de hoje, os pequenos têm sede de respostas. Querem saber das coisas, querem a companhia dos adultos, e não só para protegê-los, mas também para apresentar-lhes as coisas, o mundo.
Faz um bom tempo que as crianças precisam ir à escola bem pequenas. Já não há tantas mães em tempo integral para todos os cuidados e, assim, a escola passa a ser uma opção inarredável.
Dois anos tem sido a idade escolhida por muitos pais para levar os pequenos ao ponto de largada da maratona escolar. Procuram por uma boa escola, ouvem e pesam o conhecimento e a opinião de amigos e parentes, selecionam, até onde lhes é possível, a que lhes parece melhor. Se a opção é por uma escola pública, geralmente a escolha recai numa creche que já tem o respaldo da comunidade.
Quando se pode optar por uma instituição privada, localização e preço justo recebem especial atenção.
Tem sido muito comum, no atendimento a pais que procuram a escola pela primeira vez, surgirem perguntas sobre o currículo, sobre como a escola se preocupa com o bem-estar das crianças, o que faz para fazê-las felizes no tempo e no espaço que lhes oferece.
É comum que a família fique ansiosa. Estamos falando de marinheiros de primeira viagem, para quem o momento é de muitas incertezas: O filho vai ficar bem na escola? Vai gostar? Vai se adaptar a todas as novidades? E se chorar demais?
Trata-se, agora, de saberem ser pais de um aluno, e não apenas pais, e passar a fazer parte de outra instituição não requer muitas adaptações apenas dos pequenos alunos novatos, mas também de seus responsáveis. É preciso que estejam atentos a horários de chegada, de saída, uniforme, lanche, dia de levar brinquedo, pedidos e recomendações e normas para isso, para aquilo, para tudo o que interessa ao bom encaminhamento da grande experiência que se iniciou…
O fato de decidir colocar um filho aos dois, três anos na escola, pela primeira vez, exige dos pais muita paciência e atenção na escolha do estabelecimento.
Como dissemos, antes de chegar à escola muita coisa já foi vivida pela família: muita conversa entre os pais, muitas dúvidas levantadas, alguns pedidos de opinião a conhecidos. A escola, ao receber os pais e a criança, precisa estar preparada para explicar-lhes tudo, acolhê-los com compreensão do que estão vivendo, inseri-los na novidade. A adaptação, como dissemos, será da criança e também dos pais!
Espera e confiança
Uma escola preocupada em atender bem sabe que o período de adaptação merece muitos cuidados.
Um ambiente de tranquilidade sempre será o ideal para todos: pais, alunos e docentes. Todas as atividades programadas pela escola devem, de preferência, atender ao gosto das crianças, contemplar o que mais as atrai e levar em consideração o que nessa faixa etária são capazes de dar e receber. Quanto mais variedade nas formas de distraí-las adequadamente tanto melhor. Estamos falando de brinquedos, locais para se visitarem nas próprias dependências da escola, muitas atenções, muitas outras crianças para brincar, lanche gostoso, mesinhas e cadeiras apropriadas… Até o vaso sanitário precisa ser daqueles bem pequenininhos!
Uma escola nunca substituirá o lar, muito menos a professora poderá assumir o papel da mãe e do pai. Por isso mesmo e por tudo mais, esse novo universo que recebe uma criança tão pequena tem de transpirar qualidade, respeito e atenção. Muitas vezes, não será logo de saída que o filhinho vai adorar tudo aquilo, embora sempre haja alguns que nem se importam em deixar o aconchego do lar!
Gostam do ambiente escolar e já se despedem do papai e da mamãe logo nos primeiros dias.
Adaptada a criança, a ansiedade da família tende a diminuir, e a vida, que nunca será a mesma, volta enriquecida ao seu ritmo normal.
As mães, agora, se despedem dos filhos que lhes dão um tchau sorridente, e, por vezes, já vimos mais de uma sair resmungando: Puxa, ele parece nem ligar mais pra mim! Mas o passageiro desconcerto da surpresa não impede que ela se vá feliz, porque sabe que o filhinho vai ficar bem, que ele gosta de fato da sua escola.
Porém, cada caso é um caso, cada criança é única e vive essa fase de forma diferente.
Diante deste fato, é preciso ter paciência. Paciência para esperar que a criança viva, no seu ritmo, esta tão grande mudança em sua vida. É que na vida das pessoas nem sempre é fácil essa história de adaptar-se. Quando perguntam sobre o tempo que uma criança leva para acostumar-se à escola, nós, pedagogos, não podemos inventar dados. Acontece de tudo; as respostas são múltiplas: um dia, uma semana, algumas semanas, meses. O ambiente escolar é um mundo novo que se abre na vida de uma criança. Nele, o pequeno de dois anos não é mais o único a reinar. Encontrará outras crianças, de mesma idade, que disputarão os mesmos brinquedos, os mesmos adultos, os mesmos colos, as mesmas atenções, concorrendo com os mesmos gostos e caprichos e necessidades… O é meu, agora, não funciona mais como no ambiente familiar. É preciso aprender a dividir, a emprestar, a pedir emprestado, a respeitar o outro…
E ela chora, toma, bate, chama pela mamãe, porque não entende ainda as regras desse novo mundo.
Serão as primeiras lutas da vida social extrafamiliar que se inicia. Então, no processo de adaptação, podemos dizer que saber esperar e saber confiar são expressões verbais que trazem sucesso.
Saber esperar
Quando estamos diante de um problema, é sempre natural que a vida nos convide a fazer escolhas.
Ao longo de alguns anos favorecendo a adaptação de menininhos e menininhas na escola, vimos repetindo a comprovação de que saber esperar é uma virtude e tanto para qualquer educador. Da pedagogia logosófica colhemos, a esse respeito, a seguinte orientação muito explícita: Ao dizer paciência inteligente, referimo-nos à paciência ativa. Não a que induz a esperar passivamente, mas a que, além de infundir serenidade,torna o homem compreensivo,permitindo-lhe pensar com utilidade e proveito,como também estar atento a suas necessidades e deveres durante todo o tempo, curto ou longo, que compreende a espera.
Viver isso com olhos abertos permite ver bem, uma vez que, se o filho está recebendo carinho, se está tendo atividades corretamente planejadas, atendimento às necessidades básicas de sua faixa etária, tudo num ambiente muito adequado, o adaptar-se é só uma questão de tempo. Assim, saber esperar é saber colher os resultados na hora certa, preservando-se, por outro lado, de muitas aflições perfeitamente evitáveis.
Saber confiar
O papel dos docentes envolvidos é fundamental para que, aos poucos, com a ajuda que receba, com a observação que faça e com a experiência que viva no dia-a-dia da escola, a criança compreenda que naquele lugar há adultos confiáveis, que suas professoras estão ali para ajudá-la a ser feliz no novo mundo. Mas uma confiança ainda maior, a que mais influencia em tudo, é a que a escola precisa receber dos pais. Professoras com experiência e paciência, atuando de acordo com a lei da repetição, haverão de explicar aos pais, uma e mil vezes, das mais variadas formas, tudo o que corresponde ao novo cenário, às novas circunstâncias. Pai que confia, e que confia porque constatou que pode confiar, sofre bem menos. É a confiança que surge do conhecimento.
Na medida em que os pais vão conhecendo a rotina que a criança tem na escola, as atividades que desenvolve e os profissionais que lidam com ela, essa confiança tende a se instalar. Mesmo quando o filho ou a filha esboçam alguma birrinha, externam uma reação negativa ou dizem que não gostam de ir à escola, pais que confiam sabem que, no fundo, tudo vai bem, que daqui a pouco eles já aprenderam, já se adaptaram, já estão gostando demais…
Dicas práticas para os pais
Explicar à criança que há um lugar chamado escola. A esse lugar vamos para aprender, brincar e encontrar outras crianças e adultos.
- Dizer-lhe que à escola vamos com uma roupa diferente daquela que usamos no dia-a-dia ou para passear. Esta informação deixa claro que o uniforme é a roupa adequada para se ir àquele local de aprender e brincar.
- Falar sobre a escola com os outros adultos, na frente da criança, apenas quando se tratar de aspectos positivos. Em caso de críticas, mesmo que formuladas com muita razão, é bom reservá-las para outro momento, longe da criança.
- Nunca mentir para a criança, dizendo-lhe que não a levará para a escola quando a estiver levando. Mesmo diante de seu choro, mais benéfico para ela será saber que os pais lhe disseram a verdade.
- Não se atrasar para buscá-la, após as aulas. Quando os pequenos percebem que os pais dos colegas estão chegando, a ansiedade costuma aumentar. Minutos significam horas para uma criança.
- Lembrar sempre que o choro faz parte desse processo. Se os pais cedem, a adaptação pode ficar mais difícil, estendendo-se por um tempo mais longo.
- Perguntar tudo o que quiser para a professora ou a coordenadora para que ela possa tirar todas as suas dúvidas. Se preciso for, agendar uma conversa mais demorada. Levar os pontos por escrito, não se esquecer de nada que queira ou precise saber.
- Entregar a criança ao responsável por ela na escola e sair confiante de que ela ficará bem.
- Perguntar à professora se poderá telefonar no meio do turno para saber notícias.
- Enviar o bico, o bichinho de pelúcia, o paninho ou qualquer objeto de casa do qual a criança goste. Isso a reconforta.
- Se a criança usar fralda, certificar-se de que será trocada.
- Não introduzir mais novidades na vida da criança nesse período. Nada de mudar de mamadeira, tirar a fralda, trocar de babá. Já basta a escola. Daqui a pouco, já adaptada, ela suportará outras mudanças.
- Observar a fisionomia da criança quando ela chegar perto dos coleguinhas, das professoras, do ambiente escolar. Ela pode ficar emburradinha com a professora, mas se desmanchar quando vir um colega. O importante é perceber onde estão os sinais de prazer, mesmo que pareçam camuflados.
- É importante também entregar a criança à professora. Não esperar que ela retire seu filho dos seus braços. Pode até parecer a mesma coisa, mas não é. O filho confia nos atos dos pais. Quando percebe que eles o entregaram a alguém de forma tranquila, alguém que depois lhes devolverá o tesouro, a tendência é também ficar tranquilo.
Dicas para os docentes
- Mais do que um técnico, seja um artista da informação. E um artista de cara sempre boa. Você acha que os pais já sabem tudo? Pois tenha esta certeza: eles não sabem. Explique, volte a explicar, faça-o de novo – e coloque-se sempre no lugar deles.
- Combine com os pais horários especiais nesse período: a metade da turma vai nas primeiras horas e a outra metade nas horas finais. Isso garante atenção da professora a todos e não cansa as crianças num tempo grande demais.
- Enfeite a sala, coloque iscas para as crianças. Caixas com brinquedinhos para serem descobertos, bacias com água para dar banho nas bonecas (água sempre acalma!), livrinhos espalhados, gravuras grandes e plastificadas num canto, bolas coloridas e de variados tamanhos, música suave, historinhas e… (não podia faltar!) um colinho sempre disponível.
- Peça ajuda aos coordenadores. Aquela criança que está mais chorosa precisa de mais atenção. Muitas vezes, um passeiozinho pela escola pode tranquilizá-la. E é estratégico afastá-la nesse momento do conjunto, no esforço de manter a estabilidade do ambiente para os outros que já estão calmos.
- E, por falar em ambiente, eis aqui seus secretos ingredientes: serenidade, suavidade, felicidade. Tudo o que combina com a delicada natureza infantil deve ser providenciado.
- A criança nessa faixa etária brinca sozinha e quer tudo só para si. Redobre a atenção quando um se aproximar do outro. Brigas, tapas e mordidas são o meio de expressar que sua vontade é que deve prevalecer. Como sua linguagem ainda é insuficiente, ações corporais serão as mais usadas.
- Prepare sempre uma novidade para o horário da chegada da criança. Vale um peixinho no aquário, um brinquedo colorido e diferente, uma cesta de frutas, telefones, óculos escuros, lenços, chapéus, etc.
- Lembre-se de uma regra de ouro da Pedagogia Logosófica e, também nesse momento, ensine à criança com o seu exemplo: no tom de voz, na suavidade dos gestos, na alegria que alinhava todos os tempos e espaços… e, também, no planejamento impecável. Planeje muitas atividades, mais do que as necessárias para um dia, para que você jamais se veja apertada. E sucesso!
EDNA MAIA
Pedagoga. Pós-Graduada em Educação Infantil. Professora da Educação Infantil do Colégio Logosófico de Belo Horizonte/MG.
E-mail: ednaguiar@yahoo.com.br
MARISE NANCY ALENCAR
Pedagoga. Especialista em Educação Infantil, Alfabetização e Docência do Ensino Superior. Coordenadora da Educação Infantil do Colégio Logosófico de Belo Horizonte/MG.
E-mail: marisenany@ig.com.br