Projeto Animais Brasileiros
Percebemos que as crianças (e também os adultos) conhecem mais os animais exóticos (leão, tigre, elefante, girafa) do que os brasileiros. Foram produzidos um dominó (que chamamos de dominó das pegadas), chinelos de pegadas e dois guias de identificação de pegadas (um mais simples e outro mais complexo). Todos os materiais possuem os mesmos animais que são os que compõem o dominó (anta, ema, tamanduá bandeira, capivara, lobo guará, onça e veado).

O dominó pode ser jogado relacionando animal com animal, pegada com pegada ou animal com pegada (a parte mais complexa do jogo e que dá nome ao mesmo); os chinelos usados em substrato não compactado (terra, areia) imprimem pegadas dos animais e os guias de identificação podem ser usados para subsidiar o trabalho com o dominó e identificar as pegadas feitas pelos chinelos.
A fim de dar continuidade a este trabalho e observar/analisar estes materiais e metodologias, iniciei uma prática com as crianças com as quais trabalho atualmente. Como as crianças são muito pequenas (3 e 4 anos), o dominó não é muito recomendado, por este motivo, a partir das mesmas imagens nele constantes, elaboramos um jogo da memória. Alguns testes já realizados com estes materiais demonstraram que a maior dificuldade de trabalhar com eles se dá em função do desconhecimento dos animais e da confusão entre algumas imagens que são parecidas (lobo e veado; capivara e anta), assim, concluímos que antes de usar tais materiais, ou simultaneamente a isso, seria preciso que as crianças manuseassem outras imagens destes mesmos animais para que se tornassem mais familiares e diminuíssem as confusões. O trabalho também poderia ser complementado estudando-se um pouco os hábitos e características destes animais.
Desenvolvimento da prática
Aproveitando a fantasia das crianças, iniciei o trabalho com a visita do saci (um fantoche) que por meio de uma conversa explicou a elas que devido à diminuição das florestas e proximidade com a cidade, os animais estavam indo para a cidade em busca até mesmo de alimento.
Pintei algumas pegadas de animais (ema, lobo guará e veado) na área externa e deixei que as crianças percebessem por conta própria. Os primeiros a identificarem as pegadas foram as crianças da sala vizinha que diziam ser pegadas de dinossauro (a da ema especificamente).
Estimulei as crianças a pensarem sobre a que animais pertenceriam aquelas pegadas e as respostas foram: coelhinho da páscoa (as do lobo e do veado) e dinossauro (as da ema).

Em outro momento o saci reapareceu, relembrando a conversa anterior e trazendo um guia de identificação de pegadas para que as crianças identificassem que animais teriam passado pelo CEMEI. Ao ver o guia, Héryka mostrou a imagem da Ema e disse que era avestruz; Gabriel mostrou a capivara e a onça; fiz a leitura dos nomes dos animais que apareciam ali (anta, ema, tamanduá, capivara, lobo guará, onça e veado). Fizemos um passeio pela área externa e as crianças foram observando, comparando, conversando, até encontrarem as que acreditavam serem as corretas. Davi L. Falou que o lobo come fruto e a Héryka explicou o que era cauda. Algumas crianças ainda insistiam que a do veado se tratava da pegada do coelhinho da páscoa.
Introduzi o jogo da memória com figuras dos animais que apareciam no guia, no entanto iniciamos apenas pelo reconhecimento dos animais a fim de habituarem-se a suas imagens e nomes, bem como às suas pegadas, sem nos preocuparmos com as regras do jogo. Nos dias subsequentes, fizemos diversas explorações com estas imagens: manipulação livre pelas crianças, relação animal-animal e animal-pegada com ajuda do guia e a simples nomeação dos animais.
A partir destas primeiras atividades as crianças já conseguiam identificar alguns animais e suas pegadas. Algumas crianças passaram a representar pegadas em seus desenhos, observar as suas pegadas no tanque de areia e identificar pegadas em livros de literatura trazidos para a leitura do dia.
Depois de algumas manipulações deste tipo, expliquei a regra do jogo da memória e passamos a jogar. Permiti que jogassem também durante a atividade livre, no entanto, sem a minha presença as crianças não usam as regras, brincam com as figuras, encontram pares…
Para conhecerem os animais iniciei um trabalho de pesquisa com imagens e textos coletivos, considerando as seguintes etapas:
Levantamento de hipóteses sobre o animal (o que sabemos sobre ele): as crianças expõem o que pensam sobre os animais; às vezes características externas, outras vezes parte do imaginário;
Observação de imagens selecionadas por mim e que destacam algum comportamento ou característica do animal (alimentação, cuidado parental, predador); por meio delas as crianças vão construindo alguns saberes sobre o animal, desconstruindo outros ou complementando.
Leitura de textos informativos trazidos por mim e pelas próprias crianças (solicitei pesquisa com as famílias).
A partir das duas últimas etapas, retornamos às hipóteses iniciais (registradas em cartaz) e vamos complementando ou riscando o que demonstram estar errado.
Para complementar a pesquisa, escrevemos um texto coletivo que se constitui numa síntese do que vimos e que se mostrou mais interessante para as crianças. As crianças ilustram este texto buscando representar características ou comportamento. A produção do texto coletivo não se dá em apenas um dia; é um processo lento que envolve negociação e muito incentivo. A leitura de imagens também se dá de forma lenta e gradual, pois as crianças se dispersam muito rapidamente.
Para finalizar o ciclo de pesquisa de um animal produzimos um cartaz composto pelo nosso texto coletivo e por textos e imagens utilizados. O cartaz é colocado na porta de entrada da sala o que se torna interessante, pois as crianças observam e conversam com os pais sobre ele no momento de saída.
Fazemos isso para cada animal estudado. Em alguns casos, outras atividades são realizadas como, por exemplo, a construção da língua do tamanduá com papel crepom medindo-a (60cm) e aplicando em cartaz, observação de fezes de onça parda, ovo de ema (e em comparação de outros animais) e pegada de veado; impressão de nossas pegadas em tecido (construímos um “tapete” que usamos para nos sentar ao discutir sobre os animais).
Agora partiremos para o trabalho com o chinelo de pegadas que as crianças ainda não conhecem.
Relato de experiência da Profª Sandra Fagionato Ruffino