Matematifrendo

Nas minhas lembranças infantis nos bancos escolares a Matemática sempre aparece como a grande vilã, daquelas bem tenebrosas, terríveis mesmo, que nem disfarçam ou tentam não o ser. Os números embaralhados que ora somam-se, ora multiplicam-se, que dividem e subtraem meus sentimentos de menina. Que roubam meu tempo de brincadeiras, que tiram meu sono e invadem pesadelos.

Recordo com nitidez as mãos ásperas da professora apagando meu livro até rasgar a página de tabuada do nove que não acertara na quinta vez. Relembro a paciência do primo que me ensinava Álgebra nas tardes de quarta-feira sem muito sucesso. Revivo até o tempo de faculdade onde tive que contratar um professor particular para concluir a Estatística e, com isso consegui ganhar mais um amigo e menos pontos no diploma.

Enfim, o sofrimento matemático até hoje me acompanha. De uma centena e meia de projetos pedagógicos que elaborei apenas três são de Matemática. Nos encontros de Educação Continuada nas escolas quem orienta nesta área é a Profª Cíntia Borher, parceira de trabalho que me apresentou a expressão “matematifrendo” a qual aderi de imediato. Porém, defendo a idéia de que o verdadeiro mestre é eterno aprendiz e só assim sendo exerce com excelência sua profissão. Tenho lido e estudado matemática, participei de dois cursos online na tentativa de transformar a monstrenga em minha mente.

As conclusões que cheguei para que outras crianças não “matematisofram” como aconteceu comigo são as seguintes:

  • Antes de lançar um conteúdo matemático explore-o na prática com seus alunos. Abuse de materiais concretos, pois o conceito abstrato é óbvio para você e não para criança. Conte balas, reparta chocolates, distribua bolas, invente jogos com pedrinhas, etc.
  • O lúdico é parceiro do professor – brincadeiras tradicionais podem e devem ser pensadas com olhar matemático.
  • É fundamental que a criança compreenda a utilidade da matemática em seu cotidiano e o porquê precisa estudá-la, reconhecendo-a no ambiente em que vive.
  • A matemática unida à literatura fica mais agradável, poética e criativa, portanto leia um livro infantil atentando para isso.
  • Tecnologias são grandes aliadas no ensino da Matemática: tempo de músicas, criação de filmes, tabelas e gráficos feitos em programas de computador, calculadoras no celular e tantas outras que podem enriquecer aulas antes enfadonhas.
  • Para que o ser humano se relacione bem com a Matemática é necessário que faça todas as relações possíveis entre os objetos: é igual, é diferente, é maior, é menor etc. Do ponto de vista pedagógico, é importante que o professor leve a criança a construir todas as relações possíveis entre os objetos, nas construções do seu próprio brincar: agrupar objetos por suas semelhanças; fazer classificações simples e em série; comparar tamanhos: maior, menor, igual etc.
  • O professor precisa levar em conta os conhecimentos prévios das crianças, propondo-lhes situações de aprendizagem nas quais utilizem a priori tais conhecimentos para depois, então, construir novos.
  • Artes plásticas e musicais, receitas, quadrinhos, encartes, bulas… Variar as propostas de atividades almejando atingir as preferências dos alunos.
  • Comumente os professores ensinam as crianças a contar, a ler e a escrever os signos matemáticos sem que a criança tenha construído a estrutura mental do número. Assim, o que elas fazem está apenas relacionado às suas capacidades de memorizar. Todas as situações de sala de aula podem e precisam ser exploradas pelo professor, visando encorajar seus alunos a pensarem acerca dos conceitos de número e de matemática em geral.
  • Para desenvolver as habilidades em resolução de problemas, é necessário que desde o início da escolaridade as crianças sejam desafiadas a buscar respostas para situações que lhes são propostas.

Em suma, defendo um ensino de Matemática que parta da realidade e do concreto; que adapte a criança ao ambiente escolar, dando-lhe oportunidade para que ela se revele em todos os seus aspectos: intelectuais, afetivos, sociais e físicos.


Paty Fonte (Patricia Lopes da Fonte)

Educadora especialista em pedagogia de projetos, escritora, autora dos livros “Projetos Pedagógicos Dinâmicos: a paixão de educar e o desafio de inovar” e “Pedagogia de Projetos – Ano letivo sem mesmice”, ambos publicados pela editora WAK; autora e tutora de cursos presenciais e on-line de educação continuada a docentes, coach, palestrante.

Idealizadora e diretora dos sites: www.projetospedagogicosdinamicos.com e www.cursosppd.com.br

Contatos: www.patyfonte.com.br | www.facebook.com/pedagogiadeprojetos/

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